Comunidade de Bar da Hora em Barreirinhas realiza primeiro arraial e fortalece o turismo de Base Comunitária

Comunidade de Bar da Hora em Barreirinhas realiza primeiro arraial e fortalece o turismo de Base Comunitária

Às margens do Rio Preguiças, entre Atins e Mandacaru, no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, está o povoado Bar da Hora. O lugar conserva tradições da cultura caiçara, pesqueira e ribeirinha, enquanto trilha, com os próprios pés, um novo caminho de desenvolvimento.

Bar da Hora é um daqueles lugares onde o tempo parece sossegar. É nesse território em que a natureza dita o ritmo dos dias que a comunidade decidiu se organizar para prosperar de forma coletiva e sustentável. O turismo de base comunitária se tornou uma escolha consciente — uma alternativa econômica enraizada na valorização da cultura local, na preservação ambiental e na partilha justa dos benefícios.

A iniciativa é liderada pelos próprios moradores do Bar da Hora. São mulheres, pescadores, jovens e lideranças locais reunidos em torno da Associação de Moradores e Pescadores do Bar da Hora, com o apoio de instituições como o Sebrae, entre outras parceiras que acreditaram no potencial transformador da comunidade.

Para o empreendedor comunitário Jamerson Pereira, morador do povoado, o maior atrativo do Bar da Hora é o próprio modo de vida local. “A gente sempre diz por aqui que a maior riqueza do Bar da Hora são as pessoas e a natureza. Nosso modo de vida é simples, mas cheio de sentido. A gente vive do rio, da pesca, do que plantamos, e isso é o que encanta quem nos visita”, afirma. Com o apoio do Sebrae, a comunidade passou a estruturar experiências como o passeio pelos quintais sustentáveis, onde os visitantes conhecem de perto práticas como compostagem, produção agroecológica e reaproveitamento de resíduos. “Quem vem pra cá encontra encantamento com o modo de vida e encontra verdade. E é essa verdade que faz o nosso turismo ser diferente: ele é vivo, é nosso, é feito com o coração da comunidade”, conclui.

Primeiro São João da comunidade valoriza cultura e gera renda

Neste caminho de construção coletiva, a comunidade deu mais um passo importante ao se preparar para o período junino com o apoio do Sebrae. Por meio de cursos e consultorias, moradores e empreendedores locais receberam orientações sobre boas práticas de manipulação de alimentos, precificação de produtos, recepção de visitantes e técnicas de atendimento ao cliente, conhecimentos que fortalecem a base do turismo responsável e da geração de renda.

O resultado desse movimento foi a realização do primeiro arraial do povoado Bar da Hora, uma celebração que reuniu tradição, música, sabores e identidade. Promovido pelo Sebrae, por meio da ação São João de Oportunidades, o evento transformou a vila em um espaço de encontro entre cultura e empreendedorismo.

Para a empreendedora e líder comunitária Neusa Oliveira, o arraial representa muito mais do que uma comemoração junina. “Esse São João na nossa comunidade representa muito. É oportunidade de renda, de visibilidade para nossa comunidade. Muita gente nunca tinha vendido nada pra fora, e agora tá vendo o valor do que faz. Estamos mostrando nossa cultura, nossa comida, nosso jeito de viver. Cada barraca aqui tem uma história, um esforço, uma família por trás. E ver tudo isso sendo valorizado, com o apoio do Sebrae, é muito gratificante. A gente sente que está no caminho certo, crescendo junto, sem perder nossa identidade.”

A empreendedora Cristiele Reis também comemora a oportunidade de mostrar sua culinária no arraial, agora com mais preparo e confiança. “Aqui tem comida boa e feita com carinho. Tudo do nosso quintal direto pro arraial! Depois dos cursos que fizemos com o Sebrae, aprendi sobre higiene, organização, atendimento e tudo isso fez diferença. Hoje estou mais segura pra vender, pra apresentar meu produto. É muito bom ver as pessoas elogiando e saber que isso também está gerando renda pra minha família”, conta, com orgulho.

Durante o evento, a comunidade recebeu turistas e visitantes das comunidades vizinhas, que puderam vivenciar o São João em sua forma mais genuína: com barracas de palha de comidas típicas feitas com produtos locais, apresentações culturais, hospitalidade calorosa e orgulho do que é produzido ali mesmo, no quintal de casa.

O empresário e turismólogo Reges Reis Jr. ficou encantado com o que vivenciou durante o arraial. “A experiência no Bar da Hora foi incrível. Fui surpreendido pela qualidade das comidas e bebidas, pela receptividade das pessoas e pela organização do evento. É um lugar de natureza exuberante, com uma comunidade que sabe acolher e tem um potencial imenso para o turismo de base comunitária. Sem dúvida, é um destino que merece ser conhecido e valorizado”, destacou.

Para a empreendedora Suzete Xavier, o evento marca um novo capítulo na trajetória do povoado. “Esse é só o começo. Estamos aprendendo, nos capacitando e crescendo juntos. Cada passo que damos mostra que o Bar da Hora tem muito a oferecer, tanto na cultura quanto no turismo. Ver nossa comunidade unida, mostrando seu valor, dá esperança e orgulho. Com o apoio certo, a gente vai ainda mais longe.”

Fábrica de vassouras transforma lixo em renda

Em Bar da Hora, até o que seria descartado vira oportunidade. Um dos projetos mais recentes da comunidade é a fábrica de vassouras feitas a partir de garrafas PET, uma iniciativa que une sustentabilidade, geração de renda e cuidado com o território. “As garrafas são recolhidas nas praias, na costa e em outros pontos da região, com o apoio de moradores, donos de bares, restaurantes e parceiros que colaboram com a coleta. Todo o processo é feito de forma manual, as garrafas são lavadas, secas, cortadas e transformadas em vassouras resistentes e reutilizáveis. Cada unidade utiliza cerca de 18 a 20 garrafas para ser produzida e é vendida por até R$ 25 reais”, explica a Elciane Santos, uma das empreendedoras à frente da ação.

Apesar dos desafios enfrentados na pequena fábrica de vassouras, como a necessidade de reposição das máquinas e a instalação da rede elétrica no espaço de trabalho, a comunidade mantém o entusiasmo e a organização. O projeto, que surgiu de forma espontânea, foi abraçado pelos moradores e passou a ser articulado com o apoio do Sebrae, que acompanha o desenvolvimento da iniciativa por meio de consultorias e da elaboração de um Plano de Gestão de Negócios para garantir a viabilidade econômica, a sustentabilidade e o crescimento da produção.

“A gente faz isso pensando no bem da comunidade. Queremos trabalhar melhor, com as ferramentas certas, e mostrar que dá pra cuidar do meio ambiente e ainda gerar renda aqui dentro mesmo”, afirma Elciane.

Um modelo que inspira

O reconhecimento desse trabalho coletivo já ultrapassa as fronteiras da comunidade. Em 2024, o povoado Bar da Hora foi um dos vencedores do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, uma das mais importantes premiações do turismo responsável no Brasil. O título consagrou a comunidade como exemplo de modelo sustentável baseado no protagonismo local e na articulação com parceiros institucionais. Em 2024 a comunidade também conseguiu o Prêmio Cazumbá na categoria Turismo Sustentável.

Entre 2017 e 2024, o turismo na comunidade cresceu 650%. Com isso, houve avanços significativos em indicadores sociais e econômicos, como a diminuição da migração, a criação de um fundo comunitário e a ampliação da infraestrutura para recepção de visitantes. Hoje, o povoado conta com sete pousadas, seis restaurantes e 30 leitos, todos abastecidos com ingredientes locais e integrados à lógica da economia circular.

Além da fábrica de vassouras e dos quintais sustentáveis, o visitante pode participar de experiências únicas, como a pesca tradicional, a cata do caranguejo, trilhas ecológicas e oficinas de culinária e artesanato, sempre guiadas pelos próprios moradores.

Para Jeane Soeiro, coordenadora do NAE Sebrae em Barreirinhas, o trabalho desenvolvido em Bar da Hora é um exemplo  de como o turismo pode ser um vetor de transformação social e econômica. “O Sebrae Maranhão tem orgulho de apoiar iniciativas como essa, que fortalecem a identidade cultural, promovem a sustentabilidade e geram oportunidades reais de renda para as comunidades. O primeiro arraial, a fábrica de vassouras e os demais projetos mostram que, com organização, capacitação e apoio técnico, é possível construir um turismo autêntico, responsável e que coloca o povo no centro do desenvolvimento. Essa é a essência do turismo de base comunitária e um caminho para o futuro que queremos para o Maranhão”, destaca Jeane.

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Andrezza Cerveira

Editora responsável. Profissional da comunicação com 20 anos de atuação no mercado maranhense. Atualmente apresenta o programa Diário Mais, na Rádio Mais FM 99.9, de segunda a sexta-feira, de 06h às 08h. Também possui no currículo experiências na extinta Rádio NOVA FM 93.1, TV Difusora, Portal Difusora On, Coordenadoria Municipal da Mulher de São Luís, Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Luís, além de campanhas políticas e assessoria de imprensa para organizações privadas. Ao longo da carreira, exerceu praticamente todas as funções do jornalismo: reportagem, produção, produção executiva, chefia de edição, chefia de reportagem, apresentação e coordenação de jornalismo.
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