Trader pode ter feito mais de 400 vítimas e gerado prejuízo de R$ 100 milhões no MA e PI

Um suposto trader e empresário do ramo musical, identificado como Francisco, conhecido como “Chico”, é investigado pela Polícia Civil suspeito de aplicar um golpe financeiro que teria lesado centenas de pessoas no Piauí, Maranhão e até em outros estados. Segundo relato das vítimas, os prejuízos provocados por ele podem chegar a R$ 100 milhões.
A Delegacia de Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Contra as Relações de Consumo (DECCOTERC) realizou, na tarde desta segunda-feira (23), uma reunião com dez vítimas do golpe. O encontro foi conduzido pelo delegado Luciano Alcântara, responsável pela investigação. Segundo ele, as vítimas estão sendo ouvidas individualmente.
“Já tivemos aqui o comparecimento de 10 vítimas que se apresentaram, estão contando as suas versões do que pode ter acontecido, como é que elas podem ter sido vítimas do que elas chamam de golpe”, afirmou o delegado.
O delegado explicou que, até o momento, há cerca de 80 registros formais nos estados do Piauí e Maranhão, mas o número de vítimas pode ser ainda maior. “Essa investigação é sigilosa, e novas vítimas ainda podem aparecer”, disse.
Ele confirmou que o investigado atuava como corretor de investimentos e tinha uma sede em um shopping da cidade de Timon (MA). Além disso, outros três sócios podem ter envolvimento.
Sobre os crimes investigados, o delegado explicou que, se for comprovada a atuação com gestão de valores mobiliários, o caso pode configurar estelionato qualificado. “Existe uma modalidade diferenciada de estelionato quando se trata de gestão de valores na bolsa. Nesse caso, a pena vai de 4 a 8 anos”, destacou. Ele também não descartou a possibilidade de associação criminosa.
Questionado sobre o valor total do golpe, Alcântara afirmou: “Não temos essa estimativa porque nem todas as vítimas registraram boletim. Por isso pedimos que quem se sente lesado compareça à delegacia.”
O delegado informou que o suspeito não é considerado foragido oficialmente, mas já não mantém contato com as vítimas há semanas. Segundo ele, o investigado teria sumido aos poucos, apagando rastros e desativando meios de contato.
“Ele foi apagando alguns vestígios dos locais onde ele estava, foi limpando a empresa. Acredito que agora, em junho, tenha sido o estopim: ele encerrou as conversas que mantinha com as pessoas e, nesse momento, todos perceberam que se tratava de um golpe. As vítimas não têm mais contato com ele. Diferente de alguém que diz ‘eu devo, mas vou pagar’, ele simplesmente desapareceu”, relatou o delegado.
Mais de 400 vítimas, entre diretas e indiretas, podem ter sido afetadas. O prejuízo financeiro se aproxima dos R$ 100 milhões.
Investigação segue em sigilo
Segundo o delegado Luciano Alcântara, a investigação está em fase inicial e, por isso, tramita sob sigilo. O foco agora é comprovar que os valores movimentados pelo investigado foram obtidos de forma ilícita, o que é essencial para que medidas judiciais possam ser adotadas, como o bloqueio ou sequestro de bens.
“A investigação financeira tem um passo a passo. Precisamos comprovar que houve realmente o golpe, que houve o estelionato, e que aquele dinheiro que estamos pedindo alguma medida cautelar, uma medida judicial, é proveniente desse golpe”, explicou o delegado. Ele destacou que, somente com essa comprovação, será possível tentar reaver os recursos, inclusive aqueles que possam ter sido transferidos para contas fora do país.
Luciano Alcântara também ressaltou que se trata de uma apuração complexa, tanto pela natureza do crime quanto pela quantidade de vítimas. “É uma investigação complexa principalmente pela quantidade de vítimas. Você tem uma quantidade de vítimas como essa em vários estados, acaba se tornando uma investigação mais complexa”, afirmou.
A Polícia Civil do Piauí e a Secretaria de Segurança Pública reforçam o pedido para que todas as vítimas que ainda não registraram boletim de ocorrência procurem a delegacia mais próxima.